Me perguntaram como vencer a timidez. Não sou psicóloga, mas vou compartilhar minha experiência com isso. Infelizmente nasci numa época que aparentemente era super normal pais serem autoritários e forçarem filhos a serem obedientes e atender às expectativas dos pais. E por algum motivo eu não devia atender muito às expectativas dos meus e morei boa parte da vida com minha avó materna. Eu não sei onde eu morava aos 8 anos, mas aconteceu um incidente na escola que me fez carregar traumas por trinta anos e a partir dali eu parei de responder chamada na escola. Então eu me considerava uma pessoa tímida, embora se for analisar a fundo, talvez eu fosse uma extrovertida com problemas de autoestima. Depois do tal incidente mudei de escola e dois anos depois mudei de novo. E nesta escola onde eu estudei a partir dos 11 começou a lenta transformação. No primeiro ano eu nem saía da sala no intervalo. E vinha um senhor, “seu Cecílio”, trancar as portas das salas. Ele me disse inúmeras vezes que se sumisse algo na sala a culpa ia ser minha, tentando me fazer sair. Eu só dizia que nada ia sumir. E nunca sumiu. E eu não saía da sala. No segundo ano eu saía e sentava num murinho em frente à sala. Em algum momento aí comecei a fazer amizades. Na sétima série, meu terceiro ano na escola, eu já tinha uma turma de amigos. Mas segui sem responder chamada e sem apresentar trabalhos até o fim do ensino médio.
Eu digo que talvez eu fosse uma extrovertida com problemas de autoestima porque eu trabalho desde os cinco anos. Inicialmente ajudava minha avó a organizar os produtos na loja de minhas tias. Quando acabava o que me mandavam fazer e via alguém no balcão sem ser atendido, eu ia lá tentar ajudar. Eu já sabia ler para informar os preços e sabia onde estava cada produto, então era bem simples. Nem todo mundo aceitava minha ajuda, mas isso foi algo que eu geralmente fazia por iniciativa própria.
Quando resolvi entrar na faculdade eu decidi também que ia ser uma estudante normal, respondendo a chamada e apresentando trabalhos. E aí começou a mudança. Eu no começo sentava no fundo e respondia baixo, mas respondia. E apresentava trabalhos sem olhar pros colegas ou professores, mas apresentava. Na faculdade de publicidade, minha segunda graduação, fui ficando mais soltinha.
Quando terminei o curso de publicidade eu comecei a frequentar reuniões budistas da Soka Gakkai Internacional, que conheci no fim do sétimo semestre dos oito do curso. Converti-me pouco mais de um ano mais tarde e de cara fui convidada para apresentar uma matéria para... líderes! Eu, recém convertida, explicando algo para líderes, sendo que alguns deles nasceram em famílias budistas! Mas, curiosamente, isso nem passou pela minha cabeça e aceitei. Mas no dia estava fazendo muito calor e ligaram os ventiladores, de modo que ficou difícil ouvir minha voz. Tive de falar com microfone. E eu tinha uma bronca difícil de explicar com microfone, mas acabei conseguindo fazer a apresentação com ele e foi ótimo porque ajudou a destruir a bronca. Na Gakkai tive muitas outras oportunidades de me aprimorar e vencer limitações. Em Porto Alegre cheguei a fazer parte do coral de jovens, com uma turminha muito mais nova que eu. Me sentia meio deslocada. Mais recentemente, morando em Curitiba, fiz parte do grupo Arco-Íris, onde enfrentei de novo o problema de estar num grupo com pessoas muito mais novas que eu. E venci. Na inauguração do Centro Cultural de Curitiba da BSGI eu estava muito confortável e até levei bronca por conversar demais com a menina mais nova do grupo durante o evento, onde ambas deveríamos fotografar (e fizemos isso! Com várias fotos boas, por sinal). A diferença de idade entre nós era de mais de vinte anos.
Não posso garantir que isso funcione com todo mundo, mas força de vontade costuma fazer bem, e aliada a um trabalho duro de autoconhecimento, que pouca gente encara fazer em profundidade, traz resultados surpreendentes.
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Nycka, the Nomad
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