🇧🇷 As aparências enganam?

Já ouviu dizer que as aparências enganam? Será que enganam?

Eu sou Nycka, trabalho como stylist, artista visual e fotógrafa fine art. Como stylist, fui pioneira mundial em trabalhar a imagem pessoal como ferramenta de comunicação não verbal.

Certa vez, durante o período de frio em Curitiba, eu saí para trabalhar com um aspecto bem andrógino. Sou alta, magra, tenho cabelos curtos e minha aparência já contribui bastante para o aspecto andrógino, que eventualmente reforço no vestuário.

Depois do trabalho passei no supermercado antes de ir para casa. E, no caminho, como eu estava a pé (estava trabalhando num shopping perto de casa), enquanto aguardava a luz do semáforo ficar verde para pedestres, uma mulher com uma garotinha de uns 5 ou 6 anos parou ao meu lado. A garota perguntou à mãe, olhando pra mim: “é menino ou menina?”. A mãe ficou brava com a criança, e assim que a luz do semáforo ficou verde ela saiu correndo e ralhando com a menina.

Eu não creio que roupas tenham gênero. Com frequência uso calças de corte masculino por serem mais confortáveis. Tenho zero interesse em mudar de gênero. Não creio que meu gênero biológico defina minha personalidade, não me sinto obrigada a ter comportamentos estereotipados como femininos o tempo todo. Creio que todo mundo tem características estereotipadas como masculinas e outras tantas características estereotipadas como femininas, independentemente do gênero. Seguramente a cultura brasileira, e possivelmente outras em todo o mundo, reforça(m) estereótipos. Cabe a cada pessoa, através do processo de autoconhecimento, decidir se aceita se encaixar nos estereótipos ou não. Eu optei, desde que comecei a comprar minhas próprias roupas, a não me vestir para satisfazer os outros. Uso minha aparência como ferramenta de comunicação não verbal e autoexpressão desde os dezoito anos de idade. Como não vivi a fase de vestir-me igual aos meus amigos e pessoas da minha idade na adolescência e já trabalhava com moda, foi fácil seguir esse caminho. Assim, seria fácil e natural para mim responder àquela menina se a mãe não a tivesse levado para bem longe. Não vejo vejo erro, ofensa ou vergonha em perguntar o que ela perguntou. Vejo mais erro em manter a criança num universo de repressão, onde querer entender o outro seja tratado como um erro, onde existe uma guerra entre uma única opção certa e todas as outras são vistas como erradas.

Certamente eu e aquela mãe vivemos em universos diferentes. Por isso ela correu de mim e da situação incômoda (para ela) de permitir à filha conhecer realidades diferentes das que ela estava habituada. E minha aparência pode enganar a ponto de causar dúvida se sou “menino ou menina”, mas não engana em relação a eu viver num universo diferente do de pessoas que acreditam que meninas devem vestir-se com certas opções e meninos estão limitados a outras opções.

Eu não trabalho com imagem pessoal de crianças. Nem mesmo celebridades mirins. Acredito que para desenvolver um estilo pessoal é necessário uma dose de autoconhecimento que crianças não têm, por viverem numa relação de relativa submissão às crenças e valores dos pais, sem autonomia para manifestação de sua individualidade na maioria dos casos. Muitos adultos também não têm autonomia e autoconhecimento suficientes para isso.

Eu sou uma artista, e comportamentos muito convencionais e conservadores não são nada inspiradores. Desenvolvo estilos pessoais muito menos ousados que o meu, mas excesso de medos, limitações e mentalidade conservadora não funcionam dentro do meu trabalho. O cliente tem de ter uma dose de abertura para fazer algo diferente do que tem feito. 

Se você quer desenvolver um estilo pessoal único, siga as instruções na página “Services available”. 


Nycka

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