🇧🇷 Morar em república e começar a ser nômade

Meu primeiro passo concreto para uma vida de nômade cultural foi me mudar de Montes Claros para Uberlândia a fim de estudar publicidade. Migrei de uma cidade de médio porte para outra com quase o dobro da população. Fui morar numa república com uma prima da minha mãe, uma ex colega minha com quem nunca tive muita proximidade na escola e outra moça, todas estudantes de fisioterapia. Nos primeiros meses saíamos muito juntas. Eu era cheia de limitações, traumas, alguma timidez, autoestima baixa. E em Uberlândia eu fui vencendo muito disso. Foi ali que aprendi a sair sozinha e a pensar que melhor ir sozinha que passar vontade. Aprendi umas tantas outras coisas e tive muitas primeiras vezes ali.

A vida na república, depois que eu fui beijada por um boy que uma amiga das meninas que moravam comigo queria ficar, ficou difícil. Isso aconteceu antes de completar três meses que eu estava lá. Neste período, saíamos juntas e elas ficavam com garotos e eu não ficava com ninguém. Quando este rapaz me beijou numa festa de halloween, e ele foi o primeiro que beijei na cidade, a casa caiu. As meninas da república passaram a me isolar. E eu continuei saindo e conhecendo gente e beijando gente. Mas acabei saindo de lá. De brinde, com isso descobri que era atraente a ponto de ser uma ameaça pra alguém. Nada mal para quem até ali se sentia feia e sem valor.

Na república comecei a cozinhar comida (almoço/jantar). Até ali eu só preparava sobremesas e tinha empregada em casa. Na república comecei a fazer serviços domésticos e eu detesto serviços domésticos até hoje. Cozinhar eu gosto, porque posso exercitar a criatividade, mas todo o resto é muito chato. Sorte minha que nem todo mundo pensa assim e tem gente que vive de fazer os serviços que eu acho chatos!

Como a república foi minha primeira experiência quase sem parentes (a tal prima era alguém com quem eu tinha zero intimidade até ali), tudo aquilo foi uma baita experiência de autoconhecimento, pois vi que não fazia sentido, por exemplo, me afastar do tal boy só porque uma garota que nem era minha amiga queria ficar com ele. E quando aconteceu a primeira vez eu nem sabia que ela queria algo com ele, nem sabia quem ele era, e foi ele que tomou a iniciativa. Nos encontramos algumas vezes depois daquela festa. Foi um período que me aprofundei no exercício de fazer escolhas. Mas ainda houveram momentos de bloqueio por falta de consciência dos meus traumas. Mas até hoje eu recomendo que as pessoas saiam de baixo das asas dos pais e vão pro mundo, morar sozinhas, lavar a própria roupa, cozinhar a própria comida, pra encontrar sua própria personalidade.

Duas referências muito fortes em nossas vidas e que dão muito trabalho para mudarmos (mas podemos mudar) são as referências familiares e as da cultura religiosa. Não necessariamente a religião que praticamos. Eu sou budista, mas o Brasil tem uma cultura cristã, católica, e muitos budistas praticam o budismo ainda presos à mentalidade católica, à moral católica. Quando saímos pro mundo e nos permitimos experimentar coisas diferentes temos muito mais chances de vencer estas e outras limitações e descobrir quem realmente somos. Do contrário somos apenas sombras que repetem discursos de terceiros.

Na república, entre tantas coisas, percebi que o que um público entende de uma forma, outro entende de outra, e não dá pra conviver sem que exista diálogo (comunicação real) e respeito.



Nycka, the nomad

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