Quando eu era adolescente e comecei a ser remunerada pelo meu trabalho eu recebia um salário mínimo. Setenta reais, na época. Como as roupas e calçados que minha família me dava nunca tinham a ver com minha personalidade, sem contar os sapatos sempre um número menor que meu tamanho porque eu os “herdava” da minha tia, meu primeiro interesse foi reconstruir meu guarda-roupas. Não o armário, mas o conteúdo dele. Eu queria algo que eu pudesse usar e me sentir eu mesma e não aquele personagem que minha família imaginava. E passei a pesquisar nas boas lojas da cidade. Comprava roupas e acessórios de boas marcas.
Uma vez, pouco antes de mudar de Montes Claros, onde nasci, para Uberlândia, comprei uma calça linda, de uma marca que não existe mais e me vestia com perfeição. A calça me custou quarenta reais. Mais da metade do meu salário. Mudei, e pouco depois, na nova cidade, uma vizinha veio até meu apartamento mostrar a calça jeans que ela tinha comprado. Achei muito bonita e quis uma igual, combinando que eu bordaria a minha pra não ficarmos idênticas. Também me custou quarenta reais, de uma marca que eu não conhecia. A primeira calça durou mais de 20 anos. Se eu não a tivesse descartado porque fiquei tempo demais enrolando pra trocar o zíper, ela estaria em perfeito uso ainda hoje. A segunda durou dois anos. Ou seja, a segunda me custou vinte reais por ano de uso. A primeira me custou 2 reais por ano de uso. Uma diferença significativa de preço por tempo de uso e de qualidade.
Nem tudo que é caro tem qualidade, mas normalmente as coisas muito baratas têm algum problema por trás, seja baixa qualidade do material, mão de obra com salários desleais ou, como já vi por aí no caso de moda, empresas que não empregam todas as funções que uma indústria do ramo normalmente deve utilizar.
Empresas que só pensam no lucro não se preocupam em oferecer alta qualidade ou design original. E pagam apenas o necessário aos seus funcionários.
A indústria de moda em Portugal tem grandes talentos e a brasileira tem melhorado bastante, o que mostra que as pessoas de ambos os países estão buscando design, qualidade e ética quando compram roupas, acessórios e jóias.
Tem muita gente que acha que comprar barato é comprar por custo benefício. Não é. Comprar por custo x benefício é colocar os benefícios como prioridade. E para avaliar o benefício avaliamos a ética de cada empresa, a qualidade de seus produtos, seu comprometimento com a originalidade, com bom acabamento, com a satisfação de sua equipe e de seus clientes. E isso vale não só na moda, mas em tudo. É um modo de dizer ao mundo “eu me valorizo, valorizo meu trabalho e também valorizo o trabalho de quem se empenha para buscar a excelência”. Ninguém tem de dar valor a quem não se esforça pra oferecer valor.
Nycka, the nomad
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